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Sobre postais para mim mesma e o mapa aos meus filhos e netos

  • Táb
  • 15 de set. de 2016
  • 5 min de leitura

Já comecei a receber os cartões postais que enviei para mim mesma de quando estava vivendo na Irlanda, mas ainda nem tive tempo de avisar a todos meus amigos que cheguei, nem de fazer um balanço sobre o que aprendi nos últimos meses e o que tirei dessa experiência toda. Aproveito esse espaço para fazer os dois.

Os cartões do eu do passado em Dublin" para o "eu do futuro no Brasil", eram para que eu não me esquecesse das valiosas lições que estava aprendendo durante minha viagem. Uma espécie de "post it" da vida. Existem conexões mais bonitas com o passado do que bonitas fotos. Sabedoria e experiência, por exemplo.

Percebi, então, que essa jornada que a principio se tratava apenas de um curso, acabou se revelando em um momento de auto aceitação, conhecimento, cura e aproximação de Deus.

A) Finalmente me encontrei. A verdade é que a resposta sempre esteve muito perto. Eu descobri que pra gente se encontrar, a gente tem que ir lá no fundo de nós mesmos, descer as escadas escuras sem nenhum lampião e perguntar pra nossa eu de antes: "que é que eu sonhava?" Em geral, a resposta está na infãncia, onde a opinião dos outros e a expectativa deles ainda não havia nos suplantado.

B) Agora tenho uma expressão favorita: "take your time". As pessoas diziam o tempo todo para mim, especialmente porque sou muito ansiosa. Não temos uma tradução perfeita para o português, mas não é difícil de entendê-la, e ela me acalma e me coloca no meu lugar de ser humano-comum com minhas limitações e fraquezas. E eu aceito.

C) Entendi que nunca vou compreender milhares de coisas do mundo, por mais que eu tente. A própria língua é meu limitador. Acontece que algumas palavras não tem tradução direta para o português, então meu cérebro não formou certas cognições necessárias para que eu as entendesse e aceitasse. Assim como palavras exclusivamente nossas, como "saudade", "cafuné" ou "friorento" nunca farão muito sentido para os gringos.

D) Aprendi que eu sou uma amante das palavras e que eu precisaria aprender dezenas de línguas para que conseguisse expressar verbalmente tudo o que carrego no peito.

E) Mas ao dormir sob as estrelas do Saara, entendi que certas coisas

são intraduzíveis para qualquer dicionário que exista no mundo.

F) Percebi que o dinheiro gasto em viagem é mais útil do que em escolas particulares. Poder pisar e tocar com as próprias mãos em partes da história como em Atenas e Berlim, me aumentaram uns 120 anos de idade,se ela fosse medida por conhecimento.

G) Entendi que a companhia da gente mesmo, muitas vezes, é melhor que a dos outros. E que é possível viajar sozinha, ir ao restaurante ou cinema sozinha sem se sentir desconfortável. Aquela máxima de Nietzsche: "odeio quem me rouba solidão sem me fazer companhia", ainda está valendo.

H) Mas ter amigos por perto é fundamental. Assim descobri uma facilidade que eu já tinha, mas que foi maximizada. A capacidade de conhecer pessoas em uma fila, um banco, um ônibus e transformá-las em irmãos. Um pub como point também pode se gratificante e render boas memórias.E a melhor forma de criar laços é o desprendimento. Topar qualquer tipo de programa sem preconceito é enriquecedor. Não importa se não entender tudo o que dizem: o sorriso é uma ferramenta de comunicação indestrutível.

I) Aprendi que a gente explora muito pouco as cidades em que vivemos. Os parques, os rios, as praças e as ruas que tem nelas. Quando a gente está fora, acha todos esses lugares dos outros, incríveis.

J) E assim entendi que os melhores passeios podem ser os mais simples, desde que você esteja lá de todo coração.

L) Aprendi que sou mais valente do que imaginava e quando a gente está sozinha, as pessoas tendem a tentar tirar vantagem. Então aprendi a dizer não, a recuar, a recusar. E compreendi que é possível sentir medo, sem ser covarde. Porque não sou forte apenas quando não estou assustada. Eu sou realmente forte, quando mesmo com medo eu vou em frente.

M) Vi que os europeus são realmente sujinhos e os dentes deles não são de fato muito bem cuidados. Os brasileiros dão um banho neles, literalmente.

N) Compreendi que quando você viaja para um lugar, você faz parte de um grupo de "não": não-europeu, não-caucasiano, não-nativo, etc. E assim sendo, se aproxima de outros grupos de "nãos". E me apaixonei pelos coreanos e pela cultura deles. Pelo respeito que eles tem pelos outros, pelos mais velhos e pelos professores. As escolas deles têm aulas obrigatórias de de 7 às 22h todos os dias. É um povo educado pelo Estado.

O) E a Europa não é isso tudo que dizem também não. Ruas sujas, muita gente, trânsito, muitas filas e frio. Mas confesso que perdi o ar e a voz em frente a Torre Eiffel e nas águas de Veneza.

P) Aprendi que eu posso ser quem eu quiser, desde que eu assuma tudo o que vier. Então eu espalhei por várias partes da Europa e locais escondidos diversas cartas para meus filhos ou netos e fiz um mapa. Não tem tesouro. Guardei algumas palavras e um bocado de conselhos. A riqueza são letras emendadas cirandando. É meu incentivo para que eles viajem o mundo e uma prova de amor de quem já pensava neles, antes mesmo que existissem. Para eles, desejo apenas uma biografia cheia de aventuras e coragem para desbravar a vida e o mundo! [Não poderei ir de A- Z hoje, porque ainda tenho mais alguns postais a receber] ;)

Táb é jornalista e adora fazer das palavras um estilo de vida. Durante seu intercâmbio de cinco meses na Irlanda, ela queria registrar todas as experiências e aprendizado que estava tendo, de uma forma, no mínimo inusitada.

Passou, então a enviar cartões postais para ela mesma, em sua residência no Brasil, em datas alternadas, registrando o que queria guardar, de tudo o que vinha experimentando. Dentre nomes de lugares especiais, receitas, memórias, reflexões e até mesmo broncas e repreensões para deixar a protelação de lado. A viagem era um momento sabático e solitário para que ela encontrasse sua missão no mundo. Com tanto aprendizado, a jovem acabou tendo uma nova ideia:

Durante visitas em países da Europa e África, a mineira decidiu espalhar e enterrar cartas secretas no velho continente para o futuro. No entanto, as cartas são direcionadas aos seus filhos e netos que ainda nem existem. Depois disso, ela criou um mapa com os "tesouros" escondidos. Vale lembrar que Tábita ainda não tem filhos, tampouco netos, mas o objetivo dela é incentivar os descendentes a se aventurar e explorar o mundo, juntos celebrando o amor em família ou separados, cada um em sua própria jornada.

As cartas contém conselhos, reflexões e aprendizados para que os filhos e netos também se sintam mais próximos da "avó e mãe" quando ainda jovem. Os locais para esconder as cartas também foram escolhidos com cuidado. Em geral, locais significativos ou que contassem uma história sobre ela, como nome de ruas, locais favoritos ou bustos e estátuas de autores prediletos. Numa espécie de "game" histórico e muito pessoal.

Não foi muito fácil enterrar ou guardar as cartas. Em alguns locais foi necessário pedir permissão, mas na grande maioria das vezes era preciso apenas tentar não chamar atenção na hora de escondê-las. Algumas foram guardadas em garrafas de vidro e outras em envelopes plásticos. Dependendo do local e espaço disponível.

A jornalista está produzindo um livro de contos poéticos para ser lançado no próximo ano. Ela também já está de volta ao Brasil e vem recebendo os postais que enviou para si mesma. Já em relação ao mapa, a mineira decidiu emoldurá-lo e guardá-lo por enquanto e pretende entregar uma cópia aos filhos ou netos quando nascerem na expectativa que vivam suas próprias aventuras.

 
 
 

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Quatro irmãs que viveram a vida inteira dividindo um quarto incrível. Cheios de histórias, experiências, dicas. E que agora se recusam a aceitar a ideia de viver longe umas das outras...

 

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